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Dia tenso no mercado / Reprodução - Montagem |
Diz o ditado que águas passadas não movem moinhos e hoje azedou geral para o Ibovespa. Após a alta consistente de ontem (com 0,72%), uma queda profunda, de 2,10%, aos 134.432,26 pontos, perda de 2.889,38 pontos. Essa é a maior baixa em um só dia desde 4 de abril deste ano, quando caiu 2,96%, na esteira do anúncio das tarifas “recíprocas” do governo Trump.
STF e o problema para os bancos
Hoje, o motivo é mais ou menos o mesmo: tarifas e governo Trump, mas a situação agora é muito mais tensa do que quatro meses atrás, já que os canais diplomáticos para negociação estão fechados, há forças nacionais lutando para que novas sanções sejam impostas – já que pimenta nos olhos dos outros é refresco – e as tarifas são maiores agora do que eram naquele momento.
O que melou o sentimento dos investidores na Bolsa brasileira foi uma decisão do ministro do STF, Flávio Dino, que cidadãos brasileiros não podem ser afetados em território nacional por leis e decisões estrangeiras tomadas por atos que tenham sido realizados no Brasil. Porque isso afeta possivelmente os bancos com negócios nos EUA, já que Alexandre de Moraes, companheiro de Dino do STF, foi sancionado com base na Lei Magnitsky. Os bancos têm que ficar, assim, com um olho no padre e outro na missa, para não sofrerem sanções.
“É difícil precificar as consequências se os bancos brasileiros forem cortados do sistema financeiro internacional. São bancos que operam internacionalmente e qualquer problema nessa linha seria muito ruim pro Brasil”, afirmou Bruno Takeo, estrategista da Potenza Capital. O cenário se tornou complexo.
Como para bom entendedor meia palavra basta, o caso fez os grandes bancos desabarem na sessão de hoje. A linha de pensamento dos investidores revela prudência antes de tudo, na linha farinha pouca, meu pirão primeiro, e não ficou pedra sobre pedra no setor financeiro: BB (BBAS3) caiu 6,03%, devolvendo ganhos robustos desde que lançou o balanço do 2T25 semana passada, Bradesco (BBDC4) caiu 3,43%, Itaú Unibanco (ITUB4) desceu 3,05% e Santander (SANB11) cedeu 4,88%, na mínima do dia. B3 (B3SA3) não ficou imune: menos 4,79%.
Mais tarifas de Trump
Como desgraça pouca é bobagem, nos EUA, Trump seguiu colocando lenha na fogueira: na surdina, ampliou a tarifa sobre metais. Os principais índices caíram em Wall Street, em meio a um sentimento que já era de cautela com os investidores à espera do que vai falar Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, sexta-feira (22), no simpósio anual em Jackson Hole.
Além do mais, as tratativas de Trump para acabar com a guerra na Ucrânia mostraram que de fato a pressa é inimiga da perfeição e que papagaio que acompanha joão-de-barro vira ajudante de pedreiro. A sensação que ficou das reuniões de Trump na sexta passada com Vladimir Putin, presidente da Rússia, e de ontem com Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, e demais líderes europeus é que o presidente dos EUA não está lá muito preocupado com a Ucrânia e come direitinho na mão de Putin.
Os europeus afirmaram que a adesão da Ucrânia à União Europeia precisa avançar, e líderes cogitam novas sanções a Putin. Não existem rosas sem espinhos, diriam os europeus, que, pelo visto, também entendem que em cavalo dado se olha os dentes, sim senhor. Ao menos, apesar de tudo, as ações europeias terminaram em alta.
Com todo esse cenário incerto, o dólar comercial disparou frente ao real: alta de 1,19%, a R$ 5,499. Os DIs (juros futuros) dispararam por toda a curva, com altas além de 1%.
Frigoríficos e Vale se salvam
Nesse rodamoinho de informações que afetou o IBOV, quem se salvou foram os frigoríficos, ou ao menos dois deles: Minerva (BEEF3) ganhou 2,93% e Marfrig (MRFG3) subiu 0,17%, em meio a notícias de que as tarifas de Trump já estão afetando a inflação de carnes nos EUA e com alta da divisa americana.
Vale (VALE3) oscilou o dia todo e terminou praticamente estável, com alta de 0,08%, e só não conseguiu mais porque o minério de ferro recuou lá na China. Suzano (SUZB3) também conseguiu uma alta, com 0,78%, assim como Hypera (HYPE3), com 0,48%, e foi só.
Petrobras cai junto com Raízen
Como uma andorinha só não faz verão, o Ibovespa despencou. E não só por culpa dos bancos. Petrobras (PETR4) perdeu 1,05%, com o petróleo internacional recuando e com notícias sobre investimento na Raízen (RAIZ4) sendo desmentidas – o que fez RAIZ4 cair 9,57%.
Ultrapar (UGPA3) perdeu 3,36%, em meio a recomendação ainda neutra e preço-alvo mais alto.
O varejo caiu e bloco, para todo lado, com Assaí (ASAI3) perdendo amplos 3,98%, mesmo com análise reiterando compra do ativo. O mesmo aconteceu com o Lojas Renner (LREN3), que desceu 2,10%, apesar de análise positiva sobre a empresa.
Agora, não adianta chorar sobre o leite derramado. É bola para frente, que tem outras sessões. E a de amanhã ainda tem Ata da mais recente reunião do Fed. Se gato escaldado sabe o muro em que mia, melhor ficar de olho em tudo.