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Donald Trump / Divulgação - Casa Branca |
A mais recente rodada de tarifas anunciada pelo presidente americano Donald Trump contra produtos brasileiros, em vigor desde 6 de agosto, ganhou destaque na imprensa internacional, incluindo a revista britânica The Economist. A publicação classificou a medida como “mais um latido do que uma mordida” — ou seja, mais simbólica que efetivamente econômica.
O que está em jogo
A tarifa de 50% sobre determinados produtos brasileiros é resultado da soma de uma taxa recíproca de 10% e de uma sobretaxa específica de 40%, atingindo cerca de 35% das exportações brasileiras para os Estados Unidos. Apesar da cifra impressionar, a medida vem acompanhada de 694 exceções — o que reduz o impacto imediato sobre o PIB nacional.
O governo brasileiro aposta em negociações setoriais e na ação no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) para reduzir os danos. Paralelamente, prepara um pacote de medidas internas de compensação, que deve ser anunciado até 12 de agosto.
Motivação política clara
Segundo The Economist, a motivação da Casa Branca não foi econômica. Trump teria agido em reação à prisão domiciliar e ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que enfrenta acusações de tentativa de golpe de Estado. O republicano chamou a situação de “caça às bruxas” e usou a tarifa como forma de pressão política.
O Brasil não é caso isolado: a Índia recebeu sanções similares por comprar petróleo russo, e o Canadá foi advertido de que o reconhecimento de um Estado palestino poderia dificultar negociações comerciais. No entanto, o caso brasileiro é visto como o exemplo mais explícito de Trump utilizando o comércio para intervir em assuntos internos de outro país.
Impacto econômico: limitado, mas desigual
Embora a economia brasileira como um todo deva sentir efeitos moderados no curto prazo, determinados setores e regiões podem sofrer mais. Exportadores de carne, café e frutas que dependem fortemente do mercado americano podem enfrentar queda de receitas e perda de competitividade. Pequenos produtores e empresas com margens apertadas tendem a ser os mais vulneráveis.
Além disso, contratos e cadeias produtivas não se ajustam da noite para o dia. Há risco de cancelamento de pedidos e incerteza para investimentos, mesmo com as exceções na lista de produtos tarifados.
O risco real: escalada comercial
Para The Economist, o maior perigo não está na tarifa inicial, mas no que pode vir a seguir. Lula já sinalizou a intenção de discutir o tema com outros membros do BRICS, grupo que Trump classificou como “antiamericano”. Uma reação coordenada poderia desencadear uma guerra comercial de proporções mais graves.
Trump já ameaçou ampliar a taxação para todos os produtos vindos de países do bloco caso eles abandonem o dólar em transações internacionais, chegando a citar tarifas de até 100%.
Efeitos políticos internos
A reação brasileira também passa pelo cálculo político. No Canadá, um embate verbal com Trump impulsionou a popularidade do então premiê Mark Carney. No Brasil, pesquisas recentes indicam crescimento nos índices de aprovação de Lula desde o início da disputa comercial, com o presidente se apresentando como defensor da soberania nacional.
Manter o embate em tom controlado pode render dividendos políticos, enquanto evitar uma escalada preservaria a economia de choques adicionais.
Ruído alto, mas dano imediato contido
A avaliação da The Economist é que, por ora, o tarifaço é mais um movimento político do que um golpe econômico profundo. O ruído é alto, o dano imediato é contido — mas o risco de escalada é real e depende, em grande parte, da resposta brasileira.
Lula caminha numa linha tênue: pode capitalizar politicamente o confronto, reforçando a imagem de resistência, mas terá de dosar a retórica para evitar transformar um “latido” em uma “mordida” de fato.