O efeito Ozempic chegou à farmacêutica brasileira Biomm. A companhia anunciou nesta quarta-feira, 17, um acordo com a indiana Biocon para licenciar e distribuir com exclusividade o medicamento biológico semaglutida no país -- um biossimilar do medicamento da Novo Nordisk. Hoje, as ações da Biomm dispararam 38%, para R$ 15,29. Foi o maior salto já dado pelo papel desde 2007, quando assinou um acordo de comercialização de insulina humana inalável.
A comercialização será possível a partir do último trimestre de 2026, quando é prevista a queda da patente do Ozempic. A semaglutida é utilizada no tratamento de diabetes e de obesidade, como um inibidor de apetite – que tem sido uma das alavancas de venda do Ozempic e levado a ação da Novo Nordisk a uma valorização de 45% nos últimos 12 meses.
Dados da consultoria IQVIA, especializada no setor de saúde, apontam que as vendas de semaglutida somam mais de R$ 3 bilhões ao ano no Brasil. Já as da liraglutida, a molécula do Saxenda, que é outro medicamento da Novo Nordisk, chegam a R$ 1 bilhão. O acordo vai colocar a Biomm na disputa por esse valor de mercado das drogas ‘GLP-1’.
Embora os valores e termos do contrato não tenham sido divulgados pela Biomm, a aposta da companhia é de que o acordo atenda a uma demanda reprimida bastante relevante.
“A população está envelhecendo e projeção é de que a incidência de diabetes no Brasil vai ficar por volta de 7% da população. É sempre difícil estimar, mas seguramente estamos falando de 12 milhões a 15 milhões de pessoas com diabetes hoje no Brasil”, afirma Heraldo Marchezini, CEO da Biomm, em entrevista ao INSIGHT. A estimativa é de que sejam 21,5 milhões casos em 2030, segundo o Atlas do Diabetes da Federação Internacional de Diabetes (IDF).
De acordo com Marchezini, o custo médio para o paciente que usa semaglutida é de R$ 1000 ao mês. O aumento de oferta local por meio do acordo deve ter impacto significativo para a redução desses valores, embora o executivo afirme ser “prematuro” precisar qual seria a dimensão disso.
Nascida da cisão da Biobrás, cuja operação fabril foi vendida em 2002 justamente para a Novo Nordisk, a Biomm tem um portfólio forte em insulina. Hoje, no chamado portfólio de metabolismo são quatro medicamentos já aprovados pela Anvisa e comercializados: as insulinas Glargilin e Wosulin; Ghemaxan (Enoxaparina sódica), para doenças cardiovasculares; e Herzuma (trastuzumabe), para tratamento de câncer de mama. Outros quatro medicamentos estão sob análise para aprovação regulatória, dois deles em fase final de avaliação da Anvisa.
“Crescemos dois dígitos há um ano e temos uma operação que cobre todos os setores”, destaca Marchezini, acrescentando que as próximas semanas devem trazer anúncios de parcerias e licenciamentos de novas moléculas. “Estamos ampliando o nosso portfólio e óbvio que isso traz uma sinergia de custo, de promoção médica. Estamos a caminho de ter uma massa crítica de operação, que traz essa otimização de custos”, diz.
A Biomm acaba de ganhar uma licitação federal para vende, num contrato de R$ 34 milhões, 2 milhões de frascos de insulina humana para o SUS. O contrato tem duração de 12 meses.
Além disso, no próximo dia 26 começa a operar comercialmente sua fábrica de insulina em Nova Lima (MG), que recebeu aprovação da Anvisa no começo do mês. O investimento na planta foi de R$ 800 milhões, com capacidade de 40 milhões de frascos e seringas de insulina glargina.
Com valor de mercado de R$ 1,95 bilhão, a Biomm fez diversas rodadas recentes de captação. Além dos grupos fundadores Waldrido, Martins Mares Guia e Emrich, a base acionária é composta, entre outros investidores, pela Cedro e os bancos de desenvolvimento BDMG e BNDES. No entanto, a maior acionista, com mais de 18%, é a gestora WNT, que também tem participação relevante na Veste, Westwing e Light.
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